sábado, 26 de novembro de 2011

Pois é :D

Primeiro eu segui os conselhos do tão grande Caio, superei ao menos, o vicio de falar a respeito. Foi então que dei o segundo passo,
entendi que se é meu, vem de todos os lados, não só de onde meu coração grita.
Em seguida fiz o mais importante, contei pra minha alma inquieta que eu dou ar cartas por aqui e foi ai que percebi que eu estava me sabotando. Afinal,
Se minha vida só diz respeito a mim, por que eu nunca ganhava, por que sempre esperava alguma luz, algum sorriso ou comprimento?
Quanta bobagem. Minha vida e felicidade, sou eu, minha percepção, minhas realizações.
Preciso de um parceiro, para trocar sinais e blefar se for preciso, só pra me fazer acreditar.
Não de um adversário capaz de fazer desacreditar na jogada que eu mesma formei!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

É o Caio

“Sou o mais velho de cinco irmãos, três homens e duas mulheres.
Comecei a escrever aos seis anos. Antes eu já contava histórias. Minhas tias contam que, na horas de dormir, elas iam contar histórias e eu invertia o jogo. Eu é que contava. Aprendi a ler muito cedo, filho e neto de professora, e saí escrevendo. Com 13 ou 14 anos, escrevi um romance que se chamava A Maldição dos Sant-Marie, que incluí em Ovelhas Negras, essa espécie de livro póstumo que lancei.
Cresci muito rápido, com 12 anos tinha mais de 1,80 metro. Via com horror meu corpo crescendo. Eu não queria ser adulto, achava uma besteira, dava muito trabalho. Continuei crescendo e a voz era a de um menino de 12 anos. Eu falava e as pessoas riam. Era ridículo, feio. Quando fui trabalhar na Veja, em São Paulo, com quase 20 anos, minha voz ainda era assim.

Em 1964, vim para Porto Alegre fazer o curso colegial no Instituto Porto Alegre, em cima do morro de Petrópolis. Era um internato masculino. Eu sempre fui meio selvagem, solitário, não gostava de falar, não tinha uma identidade com os rapazes da minha idade. Eles gostavam de futebol, eu queria ficar lendo.

Fui morar com a escritora Hilda Hilst, em sua fazenda de Campinas. Eu fiquei de secretário, ela escrevia e eu datilografava.Tinha uma figueira enorme na fazenda. A Hilda dizia: “Cainho, essa figueira é mágica. Quando a gente tem um problema muito grave, fala com ela e ela resolve”. Meu maior problema era a voz de menino. Uma noite, abracei a figueira e pedi para a voz mudar. Voltei para o quarto, peguei um livro de Fernando Pessoa que estava lendo e no terceiro verso a voz ficou assim, grave. Pedi com tal concentração e fé que, acho, eu mesmo me curei. A partir da mudança da voz fiquei mais seguro. Aí me assumi como adulto.

Essa história é verdadeiríssima. A Hilda Hilst é testemunha."
[...]
(...) Ela é demais estranha. Sua mão direita está toda queimada, ficaram apenas dois pedaços do médio e do indicador, os outros não têm unhas. Uma coisa dolorosa. Tem manchas de queimadura por todo o corpo, menos no rosto, onde fez plástica. Perdeu todo o cabelo no incêndio: usa uma peruca de um loiro escuro. Ela é exatamente como os seus livros: transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. É lenta e quase não fala. Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor. Talvez eu esteja fantasiando, sei lá. Mas a impressão foi fortíssima, nunca ninguém tinha me perturbado tanto. Acho que mesmo que ela não fosse Clarice Lispector eu sentiria a mesma coisa. Por incrível que pareça, voltei de lá com febre e taquicardia. Vê que estranho. Sinto que as coisas vão mudar radicalmente para mim – teu livro e Clarice Lispector num mesmo dia são, fora de dúvida, um presságio. Fico por aqui, já é muito tarde. (...)

(trecho de uma carta de Caio Fernando Abreu para Hilda Hilst)

domingo, 13 de novembro de 2011

Terceiro Bê!

O circo. Segundo o velho dicionario, "lugar onde se dão espetáculos de acrobacias, equilibrismo, palhaçadas, etc" Ora, ora, eis o nosso circo, todos tem de concordar.
Acrobacias fazemos todas as manhãs, desde a hora em que sentimos o friozinho lá fora, até a falta de agilidade com os números e letras, que diga-se de passagem, são um show a parte.
E o equilibrismo? Esse sim, praticamos todos os dias e ainda parece que ele nos foge, mas me diga, você acha fácil ouvir e respeitar calmamente quarenta vozes em timbres diferentes, quarenta sentimentos e espaços? Eu também não acho, por tanto ouso dizer que é o elemento mais malvado da nossa convivência, ele ri sempre que nos coloca de frente a ira e nós, pobres tolos, caímos!
Depois de tanta atrações, a que mais marca, são as palhaçadas, fábrica de sorrisos essa nossa turma, escola de corações limpos. Por isso digo-lhe que me vem uma vontade de não ser desse pais, já que ele nos fez vulneráveis quando criou essa coisa incomoda chamada saudade...
Por fim respeitável público, agradeço-lhes pela vida que me deram, pelo caminho de tijolos dourados que construímos e peço-lhes humildemente que não fechem as cortinas desse universo lúdico e luminoso que vemos aqui hoje!

A Vida Caindo

Dias chuvosos, já reparou como eles são entrometidos? Sim, eles são!
Todo o mundo concorda que eles nos fazem querer ficar juntos, até ai, tudo certo. Agora, quem permite que um friozinho e umas gotas de água fria nos faça pensar tanto em nós mesmos? Quem disse que eles podem nos olhar nos olhos e dizerem alto que precisamos de cafuné e café quente? Tempo traiçoeiro esse!
Já perceberam como tudo nesses dias é mais intenso? Se cortamos o dedo, dói mais. Se gostamos de uma música, com a chuva caindo, ela fica bem mais doce. Se estamos sozinho então... parece que um abismo se cria nossa volta. Ah, o frio!
Me diz, quando falamos em saudade, em espera, não te vem a cabeça uma moça bonita, com o cabelo preso, xícara em mãos, olhando a chuva cair pela janela, com um moletom velho? Vem, eu sei. É o que vemos nas telonas, é o que os dias chuvosos fazem conosco: esperar alguém que não vem, o tempo que não volta, curtir o leite, que mesmo quente, não esquenta.
É muita ousadia, não? Qual o seu problema dia chuvoso? Por que gosta tanto de nos provocar?
O quê? Não é você quem faz tudo isso? ... Está certo, talvez não seja sua culpa mesmo, é nossa, que deixamos tantas virgulas por ai e você, com toda essa água, as varre e as entrega em nossa porta, sem segundas intenções, só entrega. E se dói ou não, é a fábula da nossa vida quem diz!